
Não sei se sou o único – ou melhor, sei que não, pelo menos a minha namorada também assiste a isto- mas ao longo dos anos noto um incremento na agressividade dos passageiros dos transportes públicos. Se outrora assistiamos a um ou outro desacato provocado por um idoso revoltado com a impassividade do autocarro perante o trânsito, e que pelo facto de ter de aguardar mais tempo pelo mesmo o deixasse com a dentadura na iminência de ser projectada com tanto nervosismo, actualmente assistimos a autênticas competições interespecificas (de notar que determino a existência de duas espécies – os Homens jovens, e os Homens idosos).
Que aconteceu à nossa identidade racional? Quando era mais jovem, e até durante os meus dois primeiros anos na faculdade, havia uma relação pacifica entre os dois escalões etários. Ainda havia jovens que davam o seu lugar aos mais velhos quando não havia mais lugares sentados, e os velhinhos respeitavam as filas de espera (e avisavam jovens e outros idosos quando estes tentavam furar a fila). Agora, no entanto, vejo jovens e idosos a correrem de pontos distintos da carruagem do metro, só porque almeijam – ahhh, finesse de palavra - um lugar junto à janela, ou então respeitosos anciões a malfadarem da juventude quando estas não lhes cede um lugar no (não) tão cheio autocarro.
Será que estamos a perder o nosso sentido de ética e moral? Será que as nossas pulsões do id estarão ou o nosso lado animal foram reprimidos demasiado tempo, estando agora a aproveitar qualquer situação do nosso quotidiano para irromper à superficie do nosso iceberg, e levar-nos a readquirir as nossas caracteristicas predatórias que tão eficientes foram para a sobrevivência dos nossos ancestrais, embora nos tempos que corram não sejamos ameaçados por mamutes ou leões mas pela perseguição constante dessa sombra tão grande que é a crise que assola o nosso país?
Indago-me, questiono-me, e às vezes pergunto-me sobre tal. Mas, de momento, vou ter que deixar isso para outra altura, e pegar na minha moca. É que acabei de ver ali mais à frente no metro um lugarzinho sentado, e a velhinha que para lá se dirige que nem pense que me tira o poiso, mesmo que perigosamente carregue uma bengalinha de madeira!